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Versificação da prosa

  • Cartografias Subjetivas
  • 6 de ago. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 12 de ago. de 2020

Adoniram, acostumado a "fechar para balanço", pôs-se a pensar sobre suas escritas. No percurso do pensar, reencontrou a saudosa sensação, outrora transcrita em versos e rimas.

O esbarro com tal emoção, num átimo, erradicou a névoa de pensamentos a turvar-lhe a vista.


"Por qual motivo preferia os versos à prosa? Qual a razão de tanta aversão ao discurso corrido, se passara a vida toda correndo?"



Tais questionamentos levaram-no ao ano de sua primeira ruptura - a escola onde nascera e crescera, excluída de sua vida.


Após o primeiro dia de aula, que já fora dia de mudanças de período, mas ainda cheio de rostos e amizades, teve a notícia de que não mais viveria sua mesma vida.


Experiência de impotência ante os caminhos desconhecidos, mas, como repetidamente fora-lhe ensinado, não abaixou a cabeça e preparou-se para mais uma batalha, para continuar onde se sentisse bem.


A primeira "derrota" imposta pela vida, o primeiro contato com as diretrizes que parecem pré-estabelecidas e que, por mais que se guerreie contra elas, prevalecem sobre os mais íntimos desejos. O planejamento esvaiu-se com a rapidez de um castelo de areia à beira mar, sucumbindo imediatamente ao contato com a força da água.


E nesse cenário de destruição, encontrou nos versos o balde para modelar um novo castelo.


O verso, ritmado, curto porém preciso, abriu espaço ante ao desconhecido e estabeleceu seu novo lugar. A rima ressignificou a de antes, desolação, em inspiração e, assim, deu um passo para o amadurecimento.

Acelerando a caminhada, chegou ao início da vida adulta, onde - sobre o subjetivo, meio que escolhera abnegar (e que ainda o faz) - fora lhe dito "ótimas respostas, todas certas porém, da próxima vez, escreva mais".


E foi aí a segunda ruptura: o compasso que o acompanhara ao longo de sua maturação, não mais lhe serviria, pois a forma sucinta de expressão, não era mais bem quista e, assim, além das adaptações do meio, teve que também remodelar o interior, seu cafofo confortável, seu refugo, sua zona de paz e plenitude.

O contratempo, tornado tempo regente, retornou ao seu estado esporádico, provisório.


No entanto, desta vez ao receber um presente de seu Tio querido, (re)descobriu que é possível poetizar a prosa - com grande saudação a Baudelaire - e retomou sua jornada, contra ritmando o ritmo arrítmico do meio.


A subjetivação do que antes deslegitimara o sujeito, passou a permear, novamente, sua essência.

Retomando o questionamento:


"Por qual motivo preferia os versos à prosa? Qual a razão para tanta aversão ao discurso corrido, se passara a vida toda correndo?"


Ora, o verso é seu porto seguro. Já a prosa, o Cabo das Tormentas, caminho extenuante e que somente através da subjetivação, pode ser renomeado Cabo da Boa Esperança. Assim, o verso exprime seu arbítrio, enquanto a prosa, a imposição de um meio em que não se via parte e, depois de sua navegação atenta, pôde adquirir novo significado.


No metrônomo descompassado, a prosa era-lhe imposta vinda de um Outro que não encontrava contato mas, foi por meio do Outro que a nova orientação se fez presente, versificando a prosa e, enfim, a assumindo nova direção.


Guilherme Rossi Cirelli

 
 
 

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