O brilho de uma estrela
- Cartografias Subjetivas
- 15 de jul. de 2020
- 2 min de leitura
Ela se chamava Estela, como estrela.
Lembro dela na cozinha, preparando macarrão pra gente. De vestido florido, chinelos, cabelos brancos presos num lacinho de tecido. Falava pouco, rezava muito, e às vezes nos presenteava com um sorriso ou uma leve risada das palhaçadas da filha. Aquela que nasceu com alegria no nome: Maria das Graças, minha mãe.
Em volta da mesa redonda cada um ocupava um cantinho para almoçar, ou ía para sala quando não cabia mais - domingo era dia de casa cheia! Não importava muito o cômodo, pois aproveitar aquele prato, cheio de afeto e cuidado, era um momento especial e singular.
À tarde, depois do almoço, ela se recolhia e tirava um cochilo para descansar.
Católica, em algumas tardes organizava o terço e convidava os vizinhos. Na minha meninice, observava tudo com olhos atentos e curiosos. Lembro da fila que se formava para beijar os pés da Virgem Maria em sinal de devoção.
Ela sempre pedia pra minha mãe me batizar. Acho que era a maneira dela querer me proteger. Catorze anos depois de sua partida, eu já adulta, realizei seu pedido. Queria que ela estivesse ali, mas no fundo, sei que estava.
Ano passado, no dia 20 de março, sonhei que estava lavando louça na cozinha da casa dela. Não havia ninguém lá, porém de repente eu sentia sua presença. Eu não a via, mas sabia que estava lá e queria me dizer algo.
No sonho, eu ficava com receio e começava a chamar minha irmã Talita, procurando-a na casa, como uma forma de buscar companhia. Mesmo indo até a sala eu não via ninguém. Acordei um pouco impressionada.
Durante à tarde, liguei para minha mãe e contei sobre o sonho. Ela me disse que naquele dia se completava 21 anos que minha avó Estela havia partido. Chorei. Não tinha conhecimento da data, mas agora compreendia o sonho. Ela queria dizer que ainda estava aqui com a gente, olhando por nós.
Nunca fui de acender velas para ninguém, no entanto senti que devia fazê-lo. Ao desligar o telefone, procurei uma vela de cor verde que havia ganhado de um amigo na adolescência, e que sempre guardei com carinho. Acendi e fiz uma oração.
A embalagem dizia que quando a vela terminasse de queimar, surgiria um talismã. Horas depois, encontrei junto ao restinho da parafina, um pingente em formato de Lua. É claro: eu era a lua, ela uma estrela no céu - um aviso de que está sempre por perto, iluminando meu caminho.

Vó Estela: você sempre será uma estrela que brilha em nossas vidas, seja com seu sorriso doce, ou seu olhar cuidadoso. Obrigada por cuidar de nós. Um dia a gente se vê aí em cima.

Acho que essa é a única foto que temos só eu e ela. Eu tinha um ano de idade.
Thaís Gurgel




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