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Decisões são para indecisos

  • Cartografias Subjetivas
  • 27 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 12 de ago. de 2020

Decisões são para indecisos. Definitivamente. Esperta como uma raposa ou como uma suicida, Chapeuzinho lembra de si mesma sempre querendo muito mudar de vida e, claro, faltando-lhe coragem para tanto. Então começou a empreender, a testar, a reformular, e foi aquele "deus nos acuda!": mudou de profissão, de marido, de país e até de currículo.

A cada quinze dias ou quinze meses, acordava sobressaltada, desperta por uma nova inspiração, e lá ia ela: mudar de óculos e de penteado, não, de estilo; até de arcada dentária, mudou. Mandou confeccionar dentaduras novinhas, uma superior e uma inferior, que lhe alterassem a mandíbula e as feições. Fui até Pindamonhangaba atrás de famoso artista capilar que teceu, só para ela, pelo menos a segunda mais bela de todas as perucas. Até curso de fono ela cursou, para mudar o timbre da voz, a cadência da respiração e a forma de movimentar o abdome e o plexo solar.

Nesses tempos tão transformistas, ela não nega, sentia-se muito feliz. Embora se movimentasse da ansiedade para satisfação e desta de volta para uma nova inquietação, estava sempre em movimento. Estava não, ela era, absolutamente dinâmica. Encrencando e resolvendo. Complicando e saltando por cima.

E assim, como uma Chapeuzinho existencial, na floresta a caminho da casa da Vovó, por vezes sonhando, compondo e cantando inspirada, e por outras, colhendo flores de cá e de lá, devolvendo um filhote caído de volta ao ninho, ou ajudando algum esquilo a amontoar suas nozes, ela ia fluindo pelas ramagens da vida, solta e inconsciente. Mudando sempre, de satisfação para ansiedade e, desta, de volta para uma nova satisfação, trocando o passo, o cantarolar, as paisagens imediatas, os sons do entorno, reconhecendo-se, muito feliz.

Até que, assim como na vida fora da floresta, de repente, a Loba Malu apareceu. Encontraram-se no meio da floresta, entre um compasso e outro do cantarolar e um buquê de flores recém-colhido. E Loba Malú, como quem reconhece e acolhe, por baixo de todas as mudanças e por trás de todas as composições e os cantares, o lado Vermelho verdadeiro de Chapeuzinho, e perguntou-lhe de chofre: "você escreveu a tua história para mim?"

Aquele era um convite. Ele vinha, no entanto, em forma de pedido. E, pela primeira vez, realmente pela primeira vez, talvez pelo olhar profundo, um olhar quase que de alma para alma de Malu, Chapeuzinho viu-se diante da possibilidade de escolher: escrever ou não! Escrever ou não?

Aquele momento tão espontâneo, surpreendente, inesperado e por isso mesmo tão presente, Chapeuzinho, a maior indecisa que ela e Malu conheceram, decidiu.

Escreveu a história que você acabou de ler.


Parabéns, Chapeuzinho! (disse Malú)

Obrigada, Malú! (disse Chapeuzinho)


Annie Dymetman

 
 
 

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